terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Jovialidade


         Logo após ser servida no dia do meu aniversário por um banquete de livros da queridíssima Martha Medeiros, andei destacando alguns trechos que tocaram o meu íntimo. Se eu recomendo alguma obra dela? Todas. Bom apetite!
          A ênfase aqui está nas palavras que compõem o segundo parágrafo de uma de suas crônicas, escritas no livro Trem-Bala. Uma citação de citação: "Se uma mulher consegue manter o dom de ser velha quando jovem e jovem quando velha, ela saberá o que vem depois. A frase (...) faz todo o sentido, ao menos pra mim, que nasci com cem anos e venho regredindo desde então."
        Aos sete anos de idade, para fazer o trajeto para a escola, pegava duas conduções sozinha: a independência em miniatura. Aos quatorze, ao contrário das menininhas da minha idade, ansiava trabalhar e me auto sustentar. Na casa dos dezessete aparentava uma adolescente normal, mas nas veias corriam a caretice.
       Um convite para almoçar fora naquela época era um desacato. O término de um relacionamento, entrada VIP para noites insones. Um show de uma bandinha da moda, uma selvageria: salve-se quem puder. Um churrasco em família com direito a sessão de fotos, um ataque de nervos. Elogios eram recebidos como deboches: quem iria elogiar cabelos bem cuidados, rostinho de criança e corpictho esbelto? Na minha mente jurássica, ninguém, é claro.
        Hoje, após vinte e uma primaveras, as coisas estão melhorando. O índice  de estresse baixou. Encontro-me menos ranzinza em comparação aos anos dourados. Já tiro fotos com amigos e familiares às pencas. Procuro enxergar os fatos como experiências. As dramatizações, só uma vez ou outra. Quando carece.
       A jovialidade de espírito é um verdadeiro oásis.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tic-Tac-Tic-Tac


         Diante de alguns acontecimentos, cheguei a seguinte conclusão: o mundo funciona como uma emergência. Tudo é para ontem e o homem, coitado, encontra-se a caminho do CTI.
        O querido andava tão preocupado com os afazeres da empresa e com a cobrança daquele gerente mala que abriu mão das delícias da vida. Os pesadelos com o serviço cada vez mais o impedia de dormir agarradinho com a amada. O telefone só atendia as chamadas dos superiores, sua mulher que o esperasse chegar em casa para comunicar que a bolsa acabara de estourar. Não sobrava um elogio sequer à sua companheira: meu patrão é o máximo, me deu um aumento histórico! 
      Ao chegar em casa, chazan: descobriu que sua mulher o deixou por outro bem gracinha e preocupado com os assuntos do coração. 
       Até que um dia aquele chefe bajuladíssimo anuncia em uma reunião que, para evitar gastos, a empresa não tem outra saída a não ser optar por um corte.  Sur-pre-sa: o mané é o primeiro da lista. Tanta dedicação, tanta preocupação para que? Para que talvez assim ele pudesse despertar:
     -  Senhor Carlos, acorda!
     Tarde demais. Ele acaba de sofrer um acidente vascular.
     Tic-Tac,Tic-Tac, a vida não perdoa!